Este Sufênio que conheceis bem, Varo, é um homem encantador, discreto, cheio de
urbanidade, que faz mais versos que qualquer outra pessoa. Creio que ele já escreveu
dez mil versos ou mais, não só, como tantos outros, sobre palimpsestos, mas em
papel régio, livros novos, pergaminhos novos, cilindros novos, atados com correias
de púrpura – todos escritos com mina de chumbo e polidos com pedra-pomes. Mas, se tu
leres esses versos, verás que esse tal Sufênio, tão cheio de urbanidades, não passa
de um operário braçal ou um cabreiro, tanto que ele muda e se torna irreconhecível.
O quê disto pensar? Este homem, que há pouco tempo nos parecia tão agradável, dado a
tantas finezas, este mesmo homem é capaz da mais rústica das grosserias, do momento
em que se mete a escrever poemas. Então, torna- se cheio de auto-contentamento e se
admira a si mais que a ninguém. No entanto, não nos enganemos, porque não há ninguém
que não reflita em si... um pouco de Sufênio.. Cada um de nós não vê o saco que leva
às costas.